Mal abria os olhos e lá estava ela. Radiante. Como o sol que atrapalha o sono matutino.
– Tive um sonho estranho – ela disse.
– Sério? – respondi.
– Verdade – disse me encarando, como que querendo alguma coisa.
Ela começou a contar. Era isso que queria. Nada fazia sentido no sonho. Era longo e parecia que jamais pararia de falar. Envolvia eu e mais três caras. Andávamos pela rua à noite, sem rumo, os postes apagados. O resto já esqueci. Ou apenas ignorei.
Fiquei sem paciência:
– Querida, eu realmente não me importo com nada disso.
Mentira. Eu jamais diria isso. Não. Não seria capaz. Tratei apenas de fitar-lhe os olhos, numa tentativa – frustrada, descobri depois – de demonstrar alguma atenção.
– Ei, que cara é essa? – ela disse. – Você nem está me escutando, não é?
Menti:
– Claro que sim! – Respondi ao mudar de posição na cama. – Você falava do seu sonho, que aliás, é muito interessante.
“Você acha?”. “Acho sim”. Previ o diálogo seguinte. Acertei.
Ela tinha um jeito especial de falar “você acha?”. Era alongado no “você”. Eu gostava.
Levantou e caminhou para o banheiro. Foi enrolada no lençol. Lançou-me um olhar e fechou a porta. Até agora não sei que olhar foi esse. Foi um misto de reprovação com afeto, ou decepção com tédio. Vai ver foi só um olhar sonolento. Ela gostava disso. De me deixar confuso.
Olhei para o relógio e voltei a dormir.
Novamente o sol batia em meu rosto. Só que agora a cama era toda minha. Abri os olhos e encontrei um papel. Peguei meus óculos sobre o criado mudo. Faltava alguma coisa ali.
A carta dizia:
Mal abria os olhos e lá estava você. Radiante. Como o Sol que atrapalha o sono matutino.
– Tive um sonho estranho – eu disse.
– Sério? – você respondeu.
– Verdade – eu disse lhe encarando, como que querendo alguma coisa.
Comecei a contar. Era isso que eu queria. Nada fazia sentido no sonho. Era longo, mas até que achei divertido. Envolvia você e mais três caras. Não sei quem eram. Andavam pela rua à noite, sem rumo, os postes apagados. Juntaram-se a um grupo maior e organizaram uma passeata. Haha! Que bobagem!
Você abriu a boca para falar alguma coisa. Mas nada saiu. Então notei que você não prestava atenção em nada que eu falava. Tinha uma cara de bobo.
– Ei, que cara boba é essa? – eu disse. – Você nem está me escutando, não é?
Notei quando você mentiu:
– Claro que sim! – você disse. Depois falou que meu sonho era interessante.
Dissimulei:
– Você acha?
– Acho sim.
Levantei e caminhei para o banheiro. Enrolei-me no lençol e lhe lancei um olhar não sei de que.
No banheiro me vesti. Quando voltei, você dormia. Resolvi escrever isso e deixar ao seu lado na cama.
Estou indo embora…
Parei de ler. Olhei para o criado-mudo. Ela havia roubado minha carteira.
Ao final, a carta dizia: “Estou indo embora. Levo o que é meu por direito. Por favor, não me procure mais.”
Não fiz nada. Não poderia fazer nada. Fiquei ali, simplesmente. Sentado. Até virar pedra.
Meu irmão é um gênio!
Poxa João,
gostei.
Confesso que sou uma eterna apaixonada por narrações, então sou até meio suspeita.
=*
Foi roupinado. Sorry
Siim…
pedra.
Preciso que você me explique alguma coisa ou simplesmente me diga que estou com esquizofrenia.
Beijoo
aoiuehiaheoiuaheoiua
O/ A Rô pensou na mesma coisa que eu!
Te disse, João.
“isso foi quase um roupinol” xD
fiquei pensando se ela nao era uma garota de programa huauhauhauha
Foi roupinado, mesmo. Sorry +1
Nossa, eu adoooooooooorei esse *-*’